De Homens e Moluscos

Por Narciso Durães

Nasci há 57 anos numa fazenda entre o KM 21 da MG-404 e a Matrona e onde herdei alguns hectares da terra mais fértil do planeta. Filho de pai protestante e mãe católica cresci acendendo uma vela para Calvino outra para o Papa. De meus primos paternos aprendi as peripécias de Daniel nas masmorras babilônicas; dos maternos as mirabolâncias de Lampião e Padre Cícero nas quiçaças nordestinas. Estudei em escolas agrícolas, ordenhei vacas com a competência de um vaqueiro e feldspatos com a recalcitrância do Aleijadinho. Curti Emiliano Zapata em tempos de esquerdismo emocional e Walt Whitman por conta da melhor literatura produzida nas Américas. Tive muita habilidade com uma bola nas mãos afinal fui o goleiro titular em todas as seleções salinenses convocadas em fins de 1970; hoje tenho alguma habilidade com as palavras e quase nenhuma com estilingues e mulheres. 

Percorri o pais de Corumbá a Itacaré, da Baia de Guanabara a Foz do Iguaçu. 


Finquei minha imagem no acetato, o 3x4 dos mortos vivos que vai para os arquivos dos institutos de identificação, destilei fel em tons sustenidos, li em muros go to the hell não-sei-quem! -- Acho um absurdo mandar para o inferno alguém que sequer tocou em mim --! 


Equilibrei-me entre o mato e a caipora, Charlotte Corday e Marat, Michel Foucault e o Morro do Borel, entre o caruncho e o cereal, passei recibo do meu desatino, assumi meu gesto obsceno, ouvi Sarita Montiel, Villa-lobos e Waldick Soriano, vivi entre Deus e Darwin, Santo Agostinho e Flamarion, Guilherme Tell e o moleque, George Harrison e Bangladesh, Iemanjá e Krishna, a Jules Rimet e o Santo Graal, psicografei, em esperanto, recados de Manitu e Vishnu, busquei atalhos para o Absoluto em Inácio de Loyola e Flores Magón, morei em Ferreirópolis, Niterói e Rio Pardo de Minas. 


Não consegui entrar para o Banco do Nordeste por concurso e me neguei a entrar para o Banco do Brasil sem concurso - quando um gerente cismou de montar seu quadro de funcionários só com boleiros - feito um refém de equívocos públicos e privados.


Prestei vestibular para a Escola Preparatória de Cadetes do Ar em Barbacena e acabei num quartel do II Exército em São Paulo. Meu único filho é neurocirurgião no continente e oficial da marinha do Brasil no oceano. 


Publiquei oito livros de poesia. 


Não tenho um centavo em minha conta!


Votei em presidentes, governadores, prefeitos, vereadores. Nem sempre meus escolhidos foram eleitos. Sou um péssimo cabo eleitoral daí que não me ajoelho em portas de gabinetes mendigando rebarbas no serviço público além do que não basta o eleito confiar em mim: eu é que preciso confiar nele. 


Minha mulher diz que tenho que aprender a dançar bolero, tango, mambo, samba, rumba, mazurca, polca, rock´n´roll além de mais dois idiomas pois, segundo ela, um bailarino poliglota tem muito mais chances de adaptar e, consequentemente, sobreviver, a esses tempos ásperos ou seja que eu ignore princípios, atropele vergonhas e dance conforme a música e fale a língua dos eleitos mesmo que eles não falem língua nenhuma.


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A vaselina ou gelatina de petróleo é uma parafina líquida: é oleaginosa, límpida, incolor, não fluorescente, inodoro quando frio, mas apresenta leve odor de petróleo quando aquecido, insípido. Insolúvel na água e no álcool, miscível com a exceção do óleo de rícino, solúvel no éter, clorofórmio, éter de petróleo e nos óleos essenciais.


A vaselina pode ser usada em diversas aplicações, que vão desde seu uso industrial até o uso doméstico-farmacêutico, dentre os quais destaca-se a função de lubrificante sexual. No entanto, por ser feita a base de petróleo, seu uso pode causar alergias e irritações na pele e mucosas sensíveis dos órgãos sexuais humanos.


Copio essa definição no Google e colo aqui rigorosamente como está lá na Wikipédia.


Para mim “vaselina” é um ser humano como qualquer outro, definido, nos tratados de biologia, como animal vertebrado. Equivocadamente. Posto que desprovido de ossos e hormônios não passa de um molusco, uma água viva ou um sarapó que, para quem não sabe, é uma isca, feito uma cobrinha de duas cabeças, que os pescadores adquirem às margens da BR-040, altura de Paraopeba. Um ser é o que vai em suas vísceras, fêmures e cérebros. O vaselina desconhece esses proparoxítonos anatômicos. Do governo-geral de Tomé de Souza em 1549 a Dilma Rousseff, passando por Idalino Ribeiro e Moisés Ladeia, ele está sempre em algum escalão, esfera, raspando uma sinecura, profana ou até na nunciatura apostólica.


No primeiro dia de janeiro de 2013 Salinas terá outra configuração administrativa e, agora, não interessa se os eleitos são negros, pobres, vikimgs, doutores, semi analfabetos, se fizeram suas campanhas em cavaletes, outdoors, bicicletas, charretes, BMW, mídias sociais, escorados em associações, sindicatos, igrejas, se é marxista leninista bolchevique barra pesada ou socialista de última hora que jamais ouviu falar em Prestes, Che Guevara ou Pablo Neruda, se é neto de Clemente Durães, Lau da Boazinha ou Geraldo Santana.


O prefeito que sai, em que pese seu discurso contra o atraso, - e sua biografia apontava nesse rumo -, nunca escondeu, depois de eleito, sua predileção pelos famigerados quadros de confiança, apadrinhados que entram para o serviço público pela despudorada conveniência que o assiste, alguns vaselinados de três, quatro administrações e que, providos de um metabolismo peculiaríssimo, já sobrevoam com suas asas negras o casarão da Praça Procópio Cardoso recauchutados para mais quatro anos de mimetismo. Como invejo essa gente!


Só que, por mim, eu faria como Breno, O Gaulês e sentaria logo um Vae victis para cima desses malandros e ia dormir sossegado.


*Narciso Durães é matronense, poeta e não pleiteia nenhum cargo no governo de Kinca da Ciclo Dias.

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