Diálogo e fascismo
*Por Levon Nascimento |
Calma! Vamos dialogar?
Uma das marcas do período conturbado pelo
qual o Brasil está passando é a extrema polarização das posições políticas, as
quais deixaram o terreno fértil do diálogo e da liberdade de expressão e
adentraram ao pântano das perigosas simplificações, dos dogmatismos e do ódio
fascista.
Por quais motivos?
O petismo foi um modo de governo de esquerda
moderado, que nada teve de socialista ou comunista, a não ser os aliados e a
referência moral, que buscou a conciliação com as elites e patrocinou políticas
macroeconômicas tipicamente capitalistas, permitindo imensos lucros aos grandes
bancos e aos setores hegemônicos da burguesia nacional e que mexeu pouco na
estrutura social do Brasil, propiciando que os setores populares, antes
totalmente excluídos, tivessem acesso ao consumo e a alguns direitos sociais.
Porém, mesmo este pouco de inclusão, que retirou 40 milhões de brasileiros da
condição de extrema pobreza, desagradou à conservadora classe dominante
nacional, secularmente beneficiária das desigualdades.
O ódio fascista foi fomentado
No caso da classe média, imageticamente
retratada pelo jocoso termo “coxinha”, pesa o fato dela ser tão classe
trabalhadora quanto as demais classes populares, mas ideologicamente
identificada, inspirada e desejosa de ser parte da assim denominada burguesia,
ou classe opressora. Daí decorre que não deve ser motivo de espanto, pelo menos
para quem quiser sociologicamente analisar, o fato de ser a classe média, tão
sofredora quanto as demais categorias oprimidas, a contribuir com o maior
contingente de indivíduos que defendem e propagam a irracional ideologia do
fascismo brasileiro. Some-se a isto o conservadorismo estético, típico dos
estratos médios de sociedades que passaram por longos períodos de domínio
colonial, e a extrema religiosidade de caráter privado, centrada atualmente no
que se denominou chamar de teologia da prosperidade.
Dito isso, se entende o porquê da classe
média bradar palavras de ordem que deixariam corados de vergonha quaisquer
indivíduos que se dedicassem a um estudo mínimo de História, como, por exemplo,
os famosos: “vai pra Cuba”, “petralha é tudo comunista”, “fascismo é ideologia
de esquerda” e outras falácias. Quanto a Cuba, qualquer observador da cena
internacional sabe que a ilha dos Castro caminha abertamente para a abertura de
seu mercado. A Guerra Fria dos anos 60 ficou longe. Até Barak Obama e os
Holling Stones já foram dar o seu abraço a Fidel. Supor que o petismo levaria o
Brasil para uma ditadura comunista é de fazer o velho Marx ou Stalin se revirarem
de raiva no caixão. Em qual comunismo os bancos lucrariam tanto e os pobres
receberiam incentivos para comprar, comprar e comprar? E, se o fascismo era de
esquerda, por que então as vítimas prediletas de Hitler e Mussolini, depois dos
judeus, eram os camaradas esquerdistas, comumente alcunhados de “os bolcheviques”
ou “os porcos vermelhos”? Não. O fascismo era uma ideologia de direita. De
extrema direita. E que punha em risco os próprios conceitos burgueses de
democracia e liberdade de expressão. Por isto foi combatido, ainda que
tardiamente, pelos Aliados. Isto, evidentemente, não retira das esquerdas
mundiais a responsabilidade de fazerem autocrítica quanto aos massacres
perpetrados por regimes como o soviético, o chinês e o norte-coreano. Não se
deve tapar os olhos para os crimes da extrema-esquerda, para não se cair no
dogmatismo obscurantista da extrema-direita.
Mas a esquerda brasileira também errou,
principalmente por não ter disputado a hegemonia ideológica durante os anos
dourados do lulismo (segundo mandato de Lula). Houve um raciocínio acomodatício
que se conformou apenas com as quatro vitórias consecutivas em eleições
presidenciais. O espaço ideológico junto à classe média ficou vazio. A classe
média, ela própria, beneficiária de tantas políticas inclusivas dos governos
petistas, como o PROUNI, o SISU, o Brasil Sem Fronteiras, a valorização real do
salário mínimo, o estímulo aos concursos públicos, o aumento de vagas em
universidades públicas e em institutos federais, além das ações de cunho
moralizante, como o fortalecimento da Controladoria Geral da União, do MPF e a
autonomia de fato da Polícia Federal. De vazio, este campo foi ocupado pelos
grupos elitistas que enxergaram no fascismo, ou seja, na manipulação dos medos,
da ignorância histórico-conceitual e nos seculares preconceitos de classe, uma
porta para a retomada do poder central (fato concretizado com o golpe do
impeachment por pedaladas fiscais) e para a extinção das conquistas alcançadas
pelas classes dominadas (inclusive da própria classe média, que agora poderá
ser vítima do aumento da idade para se aposentar e de outros golpes do governo
ilegítimo).
Nos artigos de opinião que escrevo, tenho
sido vítima dos xingamentos típicos de indivíduos que foram, involuntariamente,
inoculados pela doença do ódio fascista. Gente que não se incomoda de ter
Eduardo Cunha como parceiro de suas “lutas”. Antes, eu me afligia e sofria.
Tinha raiva. Hoje, vejo que é meu dever de cidadão brasileiro e – por que não?
– atitude de cristão, ajudar a estes co-irmãos a avançarem em suas visões de
mundo, seja pela leitura crítica ou pelo contradito conceitual.
Talvez pese que,
realmente, eu seja um militante das minhas ideias, inclusive
político-partidariamente, mas eu não os odeio. Apenas, quero dialogar
respeitosamente com eles.
* Levon Nascimento é professor de História e mestrando em “Estado,
Governo e Políticas Públicas” pela Faculdade Latino-Americana de Ciências
Sociais (Flacso Brasil).
Parabéns Professor!!!
ResponderExcluirExcelente texto sobre a identificação de cada brasileiro com sua real posição social e política!!
Se nos reconhecermos como classe assalariada e trabalhadora saberemos quais direitos e conquistas resguardar.
Do contrário, seremos fantoches de nossos patrões.
Obrigada!!
Realmente,nós e a base eleitoral do PT nos acomodamos. Tinhamos a certeza de que os ganhos sociais e a política do Estado Máximo seria idolatrada por todos os beneficiários.
ResponderExcluirNão contávamos com a malícia do quanto pior melhor e da contra informação.
Seu texto nos guiará para o trabalho de conscientização estudantil para futuras gerações credoras de uma Nação soberana e pujante econômica, financeira e socialmente.
Excelente mais uma vez !!! Quem sabe, sabe e demonstra sem medo. Ainda bem que vc aprendeu, diferentemente de alguns (infelizmente) lidar com o contraditório. A isso chamamos de maturidade intelectual. Continue firme, pois debater sempre é preciso.
ResponderExcluirParabéns Levon !!! Felizmente para vc (e infelizmente para alguns) vc aprendeu a lidar com o contraditório. A isso chamamos de maturidade intelectual. E um bom debate sempre é preciso. Continue na boa luta . Abçs.
ResponderExcluir" Se calarem a voz dos profetas , as pedras falarão ......
ResponderExcluirParabéns pela coragem e profetismo , meu amigo !!
TODOS RECONHECEMOS O QUE O GOVERNO DO PT REALIZOU, PRINCIALMENTE O ACESSO AO ENSINO SUPERIOR E A IMPLANTAÇÃO DO SAMU.MAS O QUE TODOS TEM QUE ENTENDER É QUE NEM TODAS AS CONQUISTAS JUSTIFICA TANTA CORRUPÇÃO.
ResponderExcluirO QUE ACONTECEU COM AQUELES QUE CRITICAVAM OS GOVERNOS DE CORRUPTOS FOI DEIXAR SE CORROMPER TAMBÉM. POIS O PROBLEMA SÓ IRÁ ACABAR QUANDO EXISTIR LEIS QUE REALMENTE FAÇAM JUSTIÇA, POIS A CORRUPÇÃO JÁ VIROU CULTURA DOS POLÍTICOS BRASILEIROS INDIFERENTE DE QUAL PARTIDO SEJAM TODOS ROUBARAM E CONTINUARAM ROUBANDO , BATA APENAS ASSUMIR O PODER.
A EXEMPLO QUE A IDEIA É SÓ DESVIAR O MAXIMO QUE PUDER, SÃO OS DEPUTADOS QUE DEIXAM SEU MANDADO PARA OCUPAR UM CARGO DE PREFEITO, POIS O SALÁRIO DE DEPUTADO É MUITO MAIOR ALÉM DAS VERBAS DE GABINETE, MAS MESMO O SALÁRIO DE PREFEITO SENDO MENOR , ELE É CHEFE DO EXECUTIVO OU SEJA ADMINISTRA O ORÇAMENTO E ASSIM PODE DESVIAR MUITO MAIS. ESTE ANO SERÃO AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS E TEREMOS UM EXEMPLO BEM PRÓXIMO, O DEPUTADO PAULO GUEDES SERÁ CANDIDATO A PREFEITO DE MONTES CLAROS, SE É PARA AJUDAR O POVO, QUE ELE FIQUE COMO DEPUTADO QUE ASSIM PODERÁ AJUDAR O POVO DE TODO O NORTE DE MINAS.MAS O INTERESSE É O ORÇAMENTO DE MONTES CLAROS NA MÃO
Só pode ser neurose, assim como eles tem seus heróis corruptos como o José Dirceu, Genuíno, Palocci,Lula e cia. Então eles vem com esses argumentos de que Eduardo Cunha é isso ou não é... E daí? Ele fez o que tinha ser feito, a legitimidade foi definida pelo plenário da casa e confirmado no senado, respeitando manifestação da maioria. De uma vez por todas, entenda! Eduardo Cunha não é herói da direta! E Temer não é nenhum miraculoso predestinado, mas é quem tem prerrogativa para assumir o cargo.
ResponderExcluirPARA DE FALAR EM LULA PETISTA DOENTE. LULA TA NAQUELE LUGAR DE POLITICO QUE ROUBA MAS FAZ SO QUE ELE ROUBOU MUITO MAIS QUE FEZ TA QUASE LÁ NA REPUBLICA DO PARANÁ..
ResponderExcluirA ideologia PT acabou!
ResponderExcluirGostei do texto, apesar da quantidade de pleonasmos viciosos, torna-se passível de leitura. Outra questão é que não se escreve
ResponderExcluir"Holling Stones", e sim: "The Rolling Stones".
Espero ler mais textos desse gênero aqui! O Blog estava precisando disso!Parabéns e felicidades!
Duente
ResponderExcluirDuente
ResponderExcluir