Por que todo mundo ‘Virou Bandido'
Revelações enfraquecem Janot,
fragilizam a delação feita pelos irmãos Batista e mostram como se tentou
igualar toda a política brasileira por baixo para salvar os reais criminosos
Por Instituto Teotônio Vilela
As
novas gravações envolvendo os irmãos Batista jogam luz sobre a crise política
fabricada a partir da delação firmada por eles junto à Procuradoria-Geral da
República, em maio último. Resta cada vez mais evidente que foi urdido, com
participação de um ou mais procuradores, um modus operandi cujo objetivo final
era transformar "todo mundo em bandido", conforme consta de um dos
diálogos.
Os
delatores do grupo empresarial agiram sob orientação de procurador que atuou
durante anos como auxiliar direto do procurador-geral da República, Rodrigo
Janot. Foi provavelmente com instruções dadas por Marcelo Miller que Joesley
Batista gravou diálogos com o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves,
pondo fogo à crise política que se arrasta até hoje.
A
admissão, agora, pelo próprio Janot de que a delação dos Batista está sob
suspeita e o acordo de colaboração premiada firmado por eles, sob ameaça de ser
cancelado praticamente invalida as "provas" obtidas sob estas
condições. No mínimo estendem enorme nuvem de suspeição sobre os interesses que
moveram os empresários que mais se enriqueceram no país nos anos de governo do
PT.
Miller,
um dos braços direitos de Janot, já teria orientado outras gravações no passado
e instruído delações. Foram os casos de Nestor Cerveró, em diálogos gravados
com Delcídio do Amaral, e de Sergio Machado. Com Joesley, ele aproveitou a
oportunidade para monetizar a "consultoria", já que logo depois pulou
para o outro lado do balcão, a soldo do grupo J&F.
Miller
está no centro das investigações e das acusações que pesam contra Temer e
contra Aécio. Se seu comportamento é agora posto sob suspeita, tudo aquilo no
que ele esteve envolvido, seja na PGR, seja já como advogado da J&F, também
está. Não pode valer só para o que Janot quer que valha. Segundo a Folha
de São Paulo, o procurador-geral já havia tido acesso a outra gravação que
levantava dúvida sobre a atuação do auxiliar, mas ignorara. Isso, sim, é
gravíssimo.
Vale
lembrar, ainda, que um dos delatores do grupo JBS chegou a ser instruído na
sede da Procuradoria no Distrito Federal acerca de como produzir as gravações
contra os acusados, apenas três dias antes de Joesley gravar Temer no Palácio
do Jaburu. Um novelo que ora começa a se desembaraçar. Se a delação dos Batista
tem problema, tudo o que decorreu dela também pode ter.
Janot
apressou-se a sustentar que, mesmo que a colaboração dos delatores seja
revista, as provas permanecem válidas. Isto, contudo, não está explicitado na lei
nº 12.850, que regula o instrumento da delação premiada no país. Trata-se, tão
somente, de uma interpretação do procurador-geral - a interpretação que lhe
convém para não jogar no fosso sua retumbante atuação dos últimos meses.
Na
terça (05), Janot denunciou também que há omissões na delação de Joesley e
companhia. Ele tem razão, e desde o início destas investigações isso vem sendo
cobrado do procurador-geral: faltam menções - e, mais que isso, acusações e
investigações - aos verdadeiros responsáveis pelo enriquecimento astronômico do
grupo empresarial cevado à base da corrupção do Estado brasileiro. Faltam na
lista dos Batista: Lula, Dilma e seus petistas graúdos.
Fica
cada vez mais claro que a PGR agiu de forma apressada ao apresentar denúncias
contra o presidente da República e contra um senador da República baseadas em
gravações cujo teor agora cai de podre. Igualmente grave foi a procuradoria, de
chofre, ter concedido imunidade e perdão amplo, geral e irrestrito aos que se
revelam cada vez mais como os verdadeiros criminosos desta história.
As
revelações que brotam desde ontem à noite podem permitir à nação separar joio
do trigo nesta verdadeira caça às bruxas que se instalou no país desde o dia 17
de maio. Fica evidente a existência de interesses espúrios sob o manto das
investigações levadas adiante pela PGR. Fica claro que quem realmente deveria
ser acusado continua livre e inocentes podem ter sido levianamente envolvidos.
Agora é hora de saber quem realmente é e quem não é bandido.
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