Religiosa fundadora do CEIA de Taiobeiras faleceu em Florianópolis

Irmã Neuza viveu em Taiobeiras entre anos 1993 e 1997, deixando belo legado.

Por Levon Nascimento

Faleceu nesta sexta, 25/08, em Florianópolis/SC, a Irmã Neusa Francisca do Nascimento, aos 55 anos de idade, vítima de um câncer no cérebro.

Religiosa da Congregação das Irmãs da Divina Providência por 35 anos, Irmã Neusa desenvolveu trabalho missionário em Taiobeiras entre 1993 e 1997, quando atuou em vários trabalhos da Paróquia São Sebastião. Dentre eles, acompanhou a Pastoral da Juventude e as Comunidades Eclesiais de Base.

Foi a fundadora do CEIA (Centro Educacional para a Infância e Adolescência), entidade filantrópica que existe em Taiobeiras até a atualidade e que atende crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, ofertando formação humana e profissionalizante, além de reforço escolar.

Irmã Neusa iniciou o CEIA com a ajuda de voluntárias no antigo salão da Comunidade Santa Rita, no Bairro Bom Jardim, hoje Igreja de Santa Rita. Em seguida, ocupou as dependências da antiga Fundação Santa Izabel, na Rua Santos Dumont. A atual sede do CEIA fica na rodovia que liga Taiobeiras a São João do Paraíso, em frente ao Parque de Eventos.

Em 1998, Irmã Neusa recebeu da Câmara Municipal de Taiobeiras o título de Cidadã Honorária, devido aos trabalhos desenvolvidos no CEIA. Na foto que ilustra esta matéria, Irmã Neusa faz a oração inicial do Dia Nacional da Juventude, em outubro de 1993, em Taiobeiras.

O velório ocorre na sede da Congregação das Irmãs da Divina Providência, em Florianópolis e o enterro, após missa de corpo presente, acontecerá no sábado, 26/08, a partir das 8h da manhã, no Cemitério São Francisco de Assis, na capital catarinense.

Biografia da Irmã Neusa Francisca do Nascimento

Nasceu na zona rural de Januária, Médio São Francisco, no sertão Norte Mineiro de MG em 1968. Assim, cresceu e formou-se nas lutas cotidianas da Comunidade do Alegre, atualmente auto reconhecida e certificada pela Fundação Palmares como Comunidade Remanescentes de Quilombos.

A Irmã Neusa sempre observou como a solidariedade comunitária era instrumento de resistência para superação das mazelas e faltas de ações de políticas públicas no seu povoado. Neste sentido, para ela, lutar por melhores condições de vida da população carente não era só um sonho. "É um apelo humano e divino que me acompanha. É uma motivação de vida que me interpela e me impulsiona desde menina, quando comecei a aprofundar-me na espiritualidade Cristã, lá na minha comunidade de origem,... Num clima motivador da vivência da fé católica popular. Já inconformada, com a situação de pobreza como 'sorte', estudando o catecismo,... Me deparei com a afirmação: 'Queremos fazer do mundo um lugar bom de se viver',... Para mim esta afirmação virou sonho, motivação, projeto...", afirmou ela em entrevista no jornal Opinião, agosto de 2008.

Em 1987 entrou na Congregação das Irmãs da Divina Providência e no estado de Santa Catarina teve a sua formação para a vida religiosa. Sua formação acadêmica é: graduada em Ciências da Religião pela PUC/PR(1989) em Ciências Sociais pela Unimontes (2000), pós graduada em Gerenciamento de Projetos Sociais pela Instituto Axis - PUC- Minas (2006) e em Direito Agrário pela UFG em 2022. Sob o horizonte de uma espiritualidade libertadora "descer da cruz os pobres" (VIGIL, 2007) seguiu tecendo possibilidades de fazer do mundo um lugar bom de se viver.

De fevereiro de 1990 a janeiro de 1992 esteve em formação, no sul do país, trabalhando na educação, nos municípios de Laguna e Brusque em Santa Catarina. Em 1992 retornou ao sertão norte mineiro.

De janeiro de 1993 a fevereiro de 1997, esteve em Taiobeiras, onde acompanhou e assessorou os grupos de jovens da Pastoral da Juventude e as Comunidades Eclesiais de Base da Paróquia São Sebastião. Neste município, frente à realidade de vulnerabilidade de crianças e adolescentes, começou a atender, com reforço escolar e atividades de socialização, os filhos e filhas das famílias da classe trabalhadora, nos bairros Bom Jardim e Planalto, através da PIA (Pastoral da Infância e Adolescência), que funcionou no Salão da Comunidade Santa Rita. Em sequência, a PIA tornou-se Centro Educacional para a Infância e Adolescência, o CEIA, que passou a funcionar no prédio da antiga Fundação Santa Izabel. O CEIA é uma entidade fundada por Irmã Neusa que continua existindo em Taiobeiras, atendendo ano a ano muitas crianças e adolescentes das famílias trabalhadoras.

De abril de 1997 a 2000, residiu em Montes Claros, onde acompanhou e integrou a Comissão Diocesana de Assessores da Pastoral da Juventude (CDAPJ) e trabalhou na instituição educacional Nosso Lar.

De 2001 até 2006 residiu na cidade de São Francisco, onde apoiou a chegada e organização do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra - MST, organizou com um grupo de mulheres das periferias do município uma fabriqueta de doces, a partir dos princípios da economia solidária e engajou se na organização e fundação da primeira Escola Família Agrícola - EFA Tabocal nas barrancas do Rio São Francisco em MG e trabalhou com Articulação do Programa P1MC - Programa 1 milhão de cisternas de coleta de água da chuva. De 2006 a 2009 morou em Belo Horizonte e integrou o Vicariato da Ação Social e Política da Arquidiocese de Belo Horizonte coordenando o Núcleo de Geração de Trabalho e Renda em diálogo com os grupos de economia solidária de MG. Neste tempo acompanhou ativamente as articulações dos movimentos sociais na região metropolitana de BH.

Em fevereiro de 2009 voltou a residir nas barrancas do Rio São Francisco, no município de Buritizeiro somando-se ao processo da Articulação São Francisco Vivo coordenado pelas pastorais sociais: Comissão Pastoral da Terra - CPT e Conselho Pastoral dos Pescadores- CPP. Neste contexto de articulação das "gentes" do Rio para uma revitalização da vida: do povo, do Rio e da terra, atendeu a solicitação do Conselho Pastoral dos Pescadores para colaborar com a organização da Pastoral em MG. Aceitou o desafio coordenando em 2010 o diagnóstico da pesca artesanal do alto e médio São Francisco mineiro, no qual, foram articulados pescadores e pescadoras de 12 municípios, finalizando com um grande encontro de socialização, o que marcou a fundação do Regional do CPP MG.

Até setembro de 2022 coordenou o Regional do CPP MG, bem como, o trabalho formativo de base de várias comunidades tradicionais nas linhas de território/ meio ambiente, direitos e geração de renda. Sua presença sempre se caracterizou pela ternura e solidária colaboração na construção de processo de libertação das situações de opressões, na luta por dignidade e cidadania.

No dia 13 de setembro de 2022 passou mal quando estava indo participar de uma atividade nacional do CPP, em outubro foi diagnosticada com um câncer cerebral, e seguiu em tratamento até hoje, quando as 04h21 da madrugada ela encerrou o seu peregrinar terrestre e agora em outro plano, continua nos amando e intercedendo para que continuemos o mutirão em favor da Vida! Seguiu os seus 55 anos tecendo possibilidades de fazer do mundo um lugar bom de se viver. Que legado nos deixaste, hermana: de sangue, do coração, de congregação, de missão pastoral e de compromisso com a vida. A dor da sua partida por mais dolorida que seja não é maior que a alegria de quem pode compartilhar da sua existência.

TE AMAMOS PARA SEMPRE! TRAVESSIA! "A morte nada mais é que um véu transparente entre os que partem e o que ficam".

Comentários

  1. Valmira João Gonçalves25 de agosto de 2023 às 17:40

    Que sua força posso nos ser de exemplo na caminhada e sua calma e sabedoria sejam inspiradoras para que tenhamos discernimento para compreender o que não se tem compreensão. Descanse em paz minha amiga

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  2. Nossa era uma pessoa de coração enorme só quem a conheceu para saber quão grande era..Descanse em paz🙏

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  3. Belíssima colaboração e trabalho da Irmã Neusa. O mundo precisa de mais pessoas assim como a Irmã Neusa. Meus sentimentos a todos os familiares, amigos e a Congregação das Irmãs da Divina Providência.

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