Para onde caminha a Humanidade?
![]() |
Por Petrônio Souza |
Nós, ocidentais, temos uma visão equivocada
do tempo, como se ele fosse uma linha reta, saindo das trevas e indo sempre em
frente, na busca eterna pela luz. Isso nos traz um certo consolo, uma
justificativa íntima para todas as nossas conivências e conveniências. Cíclico,
o tempo nos revela em espiral, nos levando pelas curvas, subidas e descida da
história, do tempo, da vida. Assim ficam mais compreensíveis as coisas deste
mundo e nos dá a sensação e a convicção de que devemos estar sempre atentos,
atentos e serenos na defesa diária da liberdade de
expressão, do livre pensamento, no direito de ir e vir, de questionar, de
buscar e apontar um novo caminho.
Muitos foram os momentos
da mais profunda treva e da mais completa luz na história da Humanidade.
Duradouros ou efêmeros, passamos por essas estradas ou pequenos atalhos na
longa caminhada da existência humana sobre a face da Terra. Muitos foram os
momentos que são de eterno exemplo e referência para todos nós, daquilo que se
deve e que não deve ser feito, permitido, repetido. Nessa esteira, analisamos também
os processos que levaram a períodos extremados, com reflexos para todo o
sempre, daquilo que nunca mais deve se repetir.
As intepretações
equivocadas desses períodos, sem uma clara visão do todo e das entrelinhas que
os antecederam e os envolveram, são sempre utilitárias, prestando um grande
desserviço às gerações e a plena compreensão de determinado momento vivido
pelos povos do planeta, de todas as nações. O que vale destacar é que os
períodos mais negros contaram não só com a conivência de grande parte da
população envolvida, mas com a sua direta participação e aquiescência. Foi
assim com a dor ensanguentada do Cristo; a escravidão secular, continental e
transatlântica de todo um povo; as perseguições, invasões e genocídios da II
Guerra Mundial; o golpe militar no Brasil e na América Latina; a invasão do
Iraque, berço da Humanidade e cenário universal das histórias infantis; o ódio
diário nas ruas ao que é diferente, ao que é novo, ao que não tem nome.
Os messianismos, o radicalismo desmedido, as intransigências em
momentos das mais profundas crises sempre guiaram e justificaram as atitudes e
decisões dos povos em situações difíceis, revelando uma mentalidade e
consciência advindas das trevas, o lado de pouca luz que habita a alma humana.
Ainda não rompemos com o umbilicalismo belicoso das cavernas, com os mais
enraizados extintos primatas, os sentimentos segregacionistas dos bandos, das
tribos, dos eleitos.
Saio para as ruas em busca de um novo tempo, como se ele existisse
fora, habitando o mundo à minha volta. Busco aqui, ali e acolá. Ele não está.
Vejo nas bancas de revistas as capas dos jornais, me assusto; paro e penso,
diante da realidade que não desejo: apesar de toda arrogância, de toda
prepotência, de toda ignorância e da falta de esperança, lá, nos confins do
mundo, alguém irá ver o sol se pôr, e será belo!
Petrônio Souza Gonçalves é
jornalista e escritor
Comentários
Postar um comentário