Da vergonha, revolta e tristeza
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*Por Stefan Salej
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Neste momento não há programa mais excitante do que
os depoimentos dos executivos e donos da Construtora Odebrecht de
Salvador, a maior empreiteira do Brasil propriamente dita, sobre como agiram
nos últimos anos. Aliás, construtora que tinha tempos atrás o nome do seu
fundador Norberto e editou um livro pesado sobre o seu modelo de negócios, que
era um exemplo para a gestão de empresas no Brasil. Da Bahia para o mundo. Um
mundo subterrâneo e de subterfúgios, de compra do Congresso nacional, do
governo e dos seus lacaios políticos.
Para quem atua na área empresarial, nada de novo. E
tem mais: nada de novo desde que nós tínhamos nos anos sessenta a idade de
colegiais. Já em 1960, Jânio Quadros exibia uma vassoura para banir a corrupção
deixada pelo saudoso JK. Os militares do golpe de 1964 exibiam a luta contra a
corrupção, junto com o anticomunismo, como trunfo para se manter no poder. Quem
não lembra dos IPM-Inquérito policial militar, tribunais de exceção.
A Odebrecht foi exposta e todo mundo ficou chocado.
Mas, as delações dessa empresa são histórias da carochinha, se colocar junto as
delações já julgadas das outras empreiteiras, inclusive da nossa querida
Andrade Gutierrez, parceira da Odebrecht em aventuras incríveis, e se examinar
outras redes de corrupção como os setores elétrico, de saneamento,
telecomunicações, privatizações, e créditos nos bancos oficiais. E mais, se o
sistema funcionou na escala federal, imagina o que acontece nos estados e
municípios.
Uma aliança politico-empresarial sofisticada que
corroeu a democracia e a economia de mercado e destruiu qualquer valor moral da
sociedade brasileira.
De qual sociedade? Dos desempregados, dos pobres, dos
desesperados, que hoje estão à mercê dos criminosos do narcotráfico, ou da
sociedade de elite que aplaudia o sucesso dos Odebrecht (descendente de
alemães que teoricamente deveriam ter algum valor moral) que tomaram conta do
nosso Brasil. Os valores que implementaram no nosso nariz com aplauso de toda a
sociedade (nos últimos anos, dos industriais do ano de Minas, vários estão
presos) e em especial o empresarial, destruíram qualquer base de
sustentabilidade.
É uma vergonha da qual participamos como
eleitores. É uma vergonha da qual participamos como cidadãos.
A Odebrecht continua como todos eles, rica, poderosa,
rindo de todos nós, como todos os seus colegas empresários e políticos. Ninguém
se abala (com raras exceções que confirmam as regra), ninguém fica mais pobre,
e todos eles com tornozeleira frouxa continuam fazendo o que sempre fizeram:
negócios escusos.
Nenhuma entidade empresarial nesse processo todo da
Lava Jato emitiu uma nota de repulsa, fez um novo código de conduta, expulsou
seus sócios corruptos. Nada. Porque no fundo acreditam que esse é o modelo de
negócios que predomina no país e com o qual você pode ficar rico.
É uma tristeza que a nossa geração de jovens da
década de sessenta deixe como herança este Brasil tão empodrecido e
empobrecido. Tudo isso para dizer que, com o ganho à custa de miséria e
desemprego, é mais seguro viver em Miami.
Erramos, mas ainda há tempo de corrigir, de mudar o
rumo. Não com a hipocrisia dos Odebrecht que salta aos olhos, mas com
mudança de atitude para valer, com mudança do modelo de valores deste país,
onde tem sim gente honesta e trabalhadora, que foi enganada. Onde sim, há empresários
sérios e honestos que podem mudar o rumo.
*Stefan Salej é empresário, ex-presidente do SEBRAE
Minas e da FIEMG-Federação de Indústrias de Minas Gerais.
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