Das novas relações trabalhistas
Por Stefan Salej |
Nos dias de hoje, em que estamos abaixo da chuva de
granizo da corrupção a toda hora, e discutindo a reforma da previdência como a
mãe das reformas da modernização e da estabilidade das finanças públicas,
acabamos deixando de prestar a atenção às mudanças nas relações trabalhistas em
curso. De um lado, a queda de atividades provocou desemprego brutal no país, na
prática totalmente subestimado como um dos nossos principais problemas no
momento, e por outro lado, a necessidade de adaptação rápida das empresas e
trabalhadores a essa nova realidade. E nessa realidade inclui-se também a
brutal mudança tecnológica, que altera a face das empresas e dos trabalhadores.
Essas mudanças, que são essencialmente culturais,
requerem também adaptações de leis e regulamentos. E, sem termos percebido,
essas leis foram sendo modificadas. Assim, foi alterada a lei de trabalhos
domésticos, nesta semana entra em vigor a lei da gorjeta, veio a lei de
terceirização, está sendo editada a lei de imigração (a nossa estrutura
demográfica está mudando e vamos precisar de mão de obra qualificada e jovem no
futuro, que virá do exterior, como já acontecia no passado) e não no final, se
for aprovada como parece que vai ser, a modernização da CLT.
Esta sim será a grande mudança, que infelizmente não
foi resultado consensual das lideranças empresarias (se existem, ao nível
nacional, com legitimidade) ou dos trabalhadores (mais preocupados com a Lava
Jato do que com os direitos trabalhistas), mas de ação do governo Temer e seus
aliados no Congresso. E as mudanças serão fundamentais em uma relação de
trabalhadores e empresas, hoje absolutamente arbitrada pelo estado, para uma
relação de igualdade, negociável e, vamos dizer, de parceria de sucesso para os
dois lados.
Essa relação, que inclui escolha de representante dos
trabalhadores nas empresas com mais de 200 funcionários, e negociação livre
entre as partes, além de outros 18 pontos, requer urgentemente um preparo de
parte a parte para a nova fase. Agora, ou vai se saber negociar e respeitar
acordos, ou não haverá paz nas empresas. Os dois lados não estão neste momento
preparados para esta fase. A entidade industrial mineira expõe pelo estado
cartazes com nomes de deputados que votaram a favor da reforma, mas nada fez
para treinar negociadores empresariais e iniciar as conversas com
sindicatos dos trabalhadores para saber como fazer daqui por diante.
Nas duas área ha mais preocupação com a eventual
extinção do obrigatório imposto sindical, aliás o que provavelmente não vai
acontecer de forma radical, mas pouca preocupação com o novo modelo de
organização sindical. Os sindicatos dos dois lados terão que mudar radicalmente
e com eles suas organizações federativas. Acabou-se o que era doce: agora terão
que prestar serviços que poucos prestavam.
E a mudança maior será referente à Justiça de
trabalho. O arbítrio passa a ser mais o acordo entre as partes do que a
justiça. Há cálculo na Justiça do trabalho de que as ações trabalhistas vão
diminuir em 50 %. Então o diálogo entre as partes se torna cada vez mais
importante e fundamental.
A nova legislação ainda não contempla a organização
da fiscalização, que é exercida pelo Ministério de trabalho, outros milhares de
normas que não beneficiam o trabalhador e prejudicam as empresas. Ela também não
será, a curto prazo, a salvação de empregos, e nem a redução de custos de
trabalho. Mas, se as partes se preparem para a transição, o que hoje não está
acontecendo, os resultados podem vir mais rápido e melhores para todos.
Stefan Salej é empresário, ex-Presidente do SEBRAE
Minas e da FIEMG
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