Religiões: Encontros, desencontros, diálogo e serviço
Padre Gledson Eduardo |
ARTIGO - Não é raro, no contexto atual, ouvirmos falar de
conflitos religiosos. Eles se dão pelos mais diversos motivos e, geralmente,
até por motivos banais. Certamente, ocorreriam em menor escala ou, talvez, nem
aconteceriam de houvesse mais diálogo entre as pessoas que professam um modo
diferente de crer e os líderes religiosos procurassem se deter a objetivos
comuns que possam fazê-los, ao menos, dialogar.
Não raro é, também, vemos os noticiários dizer que “pessoas
matam em nome de Deus” ou, ao menos, em nome do Sagrado, do Transcendente. No
diálogo interreligioso, mesmo não se pensando em termos de “unidade”, é preciso
considerar os elementos comuns que fazem das religiões pontes de comunicação
entre o ser humano e o Transcendente, em vista da salvação. Dentre eles,
ressaltamos como fundamentais a vivência do amor (sobretudo explicitado no
respeito pela dignidade da vida humana do outro/próximo) e a promoção da paz
que o mundo hoje tanto necessita.
É certo que, no passado, as religiões viveram muitos desencontros.
Por vezes algumas delas até nasceram desses desencontros. Hoje em dia, tais
desencontros também se fazem presentes na vida dos grupos sociais. Contudo, a
iniciativa do diálogo interreligioso se faz necessária para que, de outra
parte, belos encontros aconteçam, talvez não com todas as religiões, mas pelo
menos com grande parte das mais significativamente representadas e seguidas no
contexto mundial.
Mas esse chamado “diálogo interreligioso” é realmente
possível? A resposta é positiva se consideramos um elemento comum: todos
manifestam a crença num “transcendente”, que até varia muito entre as próprias
religiões (basta considerar o fato de que algumas são monoteístas e outras
politeístas).
Fundamentalmente, a religião só tem razão de ser
quando se faz serviço. E nisso talvez o cristianismo tenha certa precedência,
quando Jesus Cristo, Verbo Encarnado do Pai, diz que “não veio para ser
servido, mas sim para servir”, dando sua vida em resgate de muitos. Além disso,
lava os pés dos seus discípulos e lhes diz: “Dei-lhes o exemplo para que vocês
façam a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13,15). Assim podemos nos perguntar: que
“serventia” teria uma religião que mata e fere a dignidade humana em nome de Deus
(Sagrado/Transcendente)? Ou o que dizer da religião que se preocupa, pura e
simplesmente, com o proselitismo, sem nenhum tipo de respeito e consideração
pela religião do outro?
Um elemento, constantemente apresentado, nos mostra
bem uma realidade que talvez seja mais apropriada para usarmos aqui e que
certamente não cabe de modo algum no diálogo interreligioso: INTOLERÂNCIA!
De um lado, temos pessoas que se dispõem, mesmo sem
serem seguidores cristãos, a fazer o bem a comunidades de outro credo
religioso, nos mais diversos serviços (tanto na saúde quanto no auxílio à
retirada de documentos e promoção da dignidade da vida em todos os níveis). De
outro lado, temos a morte de pessoas por iniciativa de grupos religiosos, que
muitas vezes acontece sem nenhum motivo aparente.
Da parte de nós, cristãos, quando nos firmamos na
grande assertiva: “Jesus Cristo é o único salvador de toda a humanidade”, não
estamos desconsiderando que Jesus também viveu num contexto interreligioso.
Contudo, nunca condenou outras religiões, embora sempre tenha censurado os
costumes e normas morais errôneas, que deixavam em segundo plano a promoção da
dignidade de vida humana e a prática da caridade, fosse de quem fosse.
Na verdade, consideramos que o embate entre as
Igrejas é mais cultural que propriamente religioso. Por isso, no que se refere
ao quesito religião, o diálogo deveria, pelo menos em tese, ser mais simples e
receber de todos maior dedicação. Como ação concreta disso temos as várias
iniciativas de reflexão, diálogo e oração pela paz e pela justiça no mundo,
numa tentativa de partilhar as experiências religiosas em suas mais diversas
formas.
Que as diversas crenças sejam, pois, vias
complementares na promoção da verdade, da justiça e da paz e faça, realmente,
desses elementos fundamentais que devem ser comuns a todas as religiões, a
razão de ser da caminhada de todas as religiões.
*Padre Gledson Eduardo é da Paróquia de Montes Claros
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