Atlas revela que o Norte de Minas responde por 33% dos conflitos agrários do Estado nos últimos 20 anos

Obra, que está em fase de pré-lançamento, revela ainda a preocupação com avanço das pastagens e concorrência pelos recursos hídricos

O Norte de Minas responde por 33% dos casos diretos de conflitos agrários registrados nas duas primeiras décadas do Século XXI no Estado. Mais de 28 mil famílias se envolveram diretamente com a problemática e, nos dias atuais, a questão ganha ainda mais importância na busca por soluções, tendo em vista o avanço acelerado do agronegócio e das áreas de pastagens, a disputa pelos recursos hídricos e o potencial identificado na região para a atividade mineradora.

Este cenário é descrito no “Atlas da Questão Agrária Norte-Mineira”, publicação que está na fase de pré-lançamento virtual, sob organização da Universidade Estadual de Montes Claros. Com base em dados oficiais dos censos agropecuários do IBGE (2006 e 2017) e do acervo sobre o campo da Comissão da Pastoral da Terra (CPT), a obra reúne um conjunto com mais de 70 mapas que analisam o registro oficial de conflitos na região entre 2000 e 2019.

Conta, também, com textos científicos ao longo de 14 capítulos, com produção de autores diversos entre professores da Unimontes e pesquisadores e militantes convidados, que estudaram o Norte de Minas em temas que convergem para a questão agrária: o avanço da mineração, água, conflitos fundiários, populações tradicionais, povos indígenas e educação do campo.

Nestas duas décadas, foram 214 conflitos diretamente relacionados às terras na região norte-mineira, com o envolvimento direto de 28.476 famílias. Por isso, podemos dizer que o Atlas é, na verdade, uma constatação sobre o histórico de conflitos no Norte de Minas porque os números são extremamente significativos”, revela o professor doutor Gustavo Cepolini, integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas Regionais e Agrários (Nepra), da Unimontes, e organizador do livro.

Segundo o pesquisador, Minas Gerais responde por 3,44% de todos os conflitos por terra registrados no Brasil no período citado, observando somente a natureza fundiária, enquanto 1% do total nacional aconteceu no Norte de Minas. “A região foi cenário de 1/3 desde total de conflitos no território mineiro e isto impressiona bastante, expressando a complexidade e as contradições vivenciadas no País e, especialmente, no campo”, complementa.

Um dos mapas identifica a análise dinâmica do uso do solo no Norte de Minas entre 1990 e 2018. “Hoje, o Norte de Minas possui quatro milhões de hectares de áreas de pastagens, o que representa duas vezes a área total do Estado de Sergipe ou 33 vezes a área da cidade do Rio de Janeiro. O cenário passa a ser preocupante porque vai além das pastagens, já que há o modal do agronegócio, as monoculturas como o eucalipto e as áreas de potencial para mineração concorrendo pelo espaço. E a questão agrária em si é ainda mais indissociável de todos estes pontos se pensarmos na essencialidade da questão hídrica numa área de transição do semiárido”, analisa Cepolini.

Ainda neste semestre, está previsto o lançamento do e-book (formato PDF) para maior alcance junto à comunidade científica e diversos setores da sociedade. “Esta é mais uma maneira de cumprir o papel da universidade pública em levar o conhecimento às pessoas e, ao mesmo tempo, contribuir com o pensar para um novo planejamento ao campo norte-mineiro, com o fortalecimento das redes em todos os cenários e, não menos importante, o apoio aos pequenos e médios produtores no âmbito do campesinato”, finaliza o organizador.


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