Abusos na exploração de lítio podem ser denunciados na Ouvidoria do Estado
Atingidos já levaram as denúncias para a Assembleia de Minas. |
Neste
ano de 2024 se comemora o aniversário de 20 anos da Ouvidoria-Geral do
Estado de Minas Gerais (OGE/MG), que irá precisar trabalhar como nunca para
proteger a vulnerável população de nossa região contra os já reais atropelos das
empresas multinacionais que estão explorando o lítio, especialmente nas regiões
de Salinas e Araçuaí.
A
demanda é enorme, prova disso é que a OGE/MG precisou deslocar equipes para
fazer atendimentos presenciais em 14 municípios, dentre eles: Araçuaí, Coronel
Murta, Itinga, Medina, Rubelita, Virgem da Lapa e Salinas, todas com exploração
das multinacionais.
Para
isso, a Ouvidoria criou o programa “A Voz dos Mineiros”, que tem como objetivo
criar e fortalecer ouvidorias municipais no intuito de promover o controle
social, já que milhares de vidas estão sendo transformadas, com intensos
impactos ambientais e de costumes.
Com
ouvidorias móveis, as equipes fazem atendimentos presenciais aos cidadãos,
esclarecendo dúvidas e registrando suas reclamações e denúncias. Também estão
disponíveis canais oficiais para denúncias, como Whatsapp: (31) 3915-2022;
site: www.ouvidoriageral.mg.gov.br;
aplicativo: MGApp e telefone: 162.
Impactos socioambientais
Isolados
pelo “sistema”, os povos tradicionais e as comunidades atingidas já levaram ao
conhecimento da Assembleia de Minas, por meio da Comissão de Meio Ambiente, a
indignação com os impactos socioambientais causados pela exploração
do lítio na região.
Segundos
as lideranças indígenas, quilombolas e comunitárias, as violações de
direitos são gritantes e tudo vem sendo feito sem consulta popular,
gerando situações de depressão e ansiedade na população que tiveram seus
territórios invadidos.
O
caos no sistema de saúde em Araçuaí já é um fato que atinge toda a população, especialmente
com os inúmeros problemas respiratórios causados pela poeira. Além disso,
muitas casas foram rachadas pelas explosões, algumas comunidades já estão
com água contaminada e suas tradicionais estradas foram desviadas e cercas
estão sendo derrubadas, tudo debaixo do nariz das autoridades locais. Ou seja:
as mineradoras chegaram atropelando a todos.
"A empresa
Sigma chegou tomando conta de nossa terra e não se preocupa com o povo, a gente
vê a empresa levando todo o tesouro da região e pisando no povo. Até uma
estrada centenária da comunidade foi desviada", denuncia Nídia
Miranda, moradora da comunidade Poço Dantas, em Itinga.
José
Claudinei Soares, vice-presidente da comunidade quilombola de Jirau, diz que o
desejo das mineradoras é que todos abandonem suas casas e saiam da área. "Onde
moro não aceito que entrem. A meu ver, houve um mal planejamento, o impacto da
mineração começa na zona rural, vai para a área urbana e a gente não sabe onde
vai parar", disse o quilombola.
A
indígena Cleonice Maria da Silva, da Aldeia Cinta Vermelha, localizada à margem
do Rio Jequitinhonha, diz que a região vem sofrendo uma nova invasão. “Tem
gente da China, do Canadá, da Aústria... É uma nova invasão, como a de 1500",
disse Cleonice.
MPF é a esperança dos atingidos
Do
Ministério Público local os atingidos não esperam nada. “Tudo acontece do lado deles e
fingem que não estão vendo”, relata um morador. No entanto, existe a
esperança de que o Ministério Público Federal (MPF) coloque um limite nos
abusos das mineradoras e as obrigue a executar uma exploração dentro das
regras.
O
procurador da República em Minas, Helder Magno da Silva, informa que há no MPF um inquérito
civil público para apurar possíveis violações de direitos étnicos, raciais
e territoriais dos povos tradicionais da região.
Conforme
a Convenção 169 da Organização das Nações Unidas (ONU) a pesquisa e lavra em
áreas de povos tradicionais são vedadas, destaca-se, também, que a
convenção da ONU tem força constitucional no Brasil. “Os povos tradicionais deverão ter
o direito a escolher suas prioridades em seu processo de desenvolvimento e de
participar da formulação e da avaliação dos planos que possam afetá-los”,
ressaltou o procurador. “Se isso não foi observado, implica na
nulidade de tudo o que foi formulado e deferido pela Agência Nacional de Mineração
e pelos órgãos ambientais", frisou.
A
tendência é de que os impactos socioambientais na região tende a piorar, pois o
interesse pelo lítio na nossa região cresceu 562% nos últimos dois anos. Segundo
a professora Aline Sulzbacher, da Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri, até o início de 2024 já tinham 1.377 processos junto à
Agência Nacional de Mineração e a tendência é de mais crescimento. “Temos
territórios sendo pesquisados para o lítio sem processo de consulta aos povos",
alerta a professora.
Vídeo mostra denúncias de violações feitas pelos povos tradicionais
Comentários
Postar um comentário