Salinas teve a coragem de fazer “Busca Ativa”
Equipes de Saúde visitaram 15.394 domicílios e orientaram 37.303 pessoas |
ARTIGO
Até então, a maneira mais eficaz de se investigar
a disseminação de um vírus desconhecido – e muitas vezes letal, é encará-lo de
frente, com estratégia pré-definida, preferencialmente seguindo os seus
rastros. Essa tática de saúde pública é chamada de “Busca Ativa” ou “Contact Tracing”,
no termo em inglês.
No entanto, para se adotar essa estratégia é
preciso coragem, planejamento e principalmente recursos, tanto humano, como
financeiro. Outro detalhe: em se tratando de pandemia, só se consegue resultados
importantes se a “Busca Ativa” for feita logo no início da disseminação.
Dito isso, não é exagero afirmar que a cidade
de Salinas evitou uma tragédia sem precedentes ao adotar a “Busca Ativa” logo
que os primeiros casos foram diagnosticados. A primeira vítima do vírus na
cidade foi anunciada em 08 de junho, no dia seguinte o paciente de 74 anos foi
à óbito. Paralelo ao choque da morte, Folha Regional explodiu a bomba das
festas clandestinas, que vinham ocorrendo em mansões e sítios às margens da
barragem, inclusive com pessoas de Montes Claros e Taiobeiras. Resultado: os dois
acusados de promoverem as festas testaram positivos para Covid-19.
Foi neste cenário que a “Busca Ativa” germinou
em Salinas. Bastou as equipes iniciarem os mapeamentos para os casos explodirem.
No 1º dia de buscas já tinham 8 casos confirmados. No 2º dia, 20 casos. No 3º,
26. No 4º dia, 33 casos. Aí, por Decreto, os grupos especiais para rastreamentos
foram ampliados, e a guerra contra o vírus foi reforçada por um pelotão de
destemidos profissionais de saúde. Ao invés de esperar as pessoas doentes nas
unidades de saúde, as equipes antecipavam os diagnósticos e passaram a isolar
os contatos de casos confirmados ou suspeitos.
A ofensiva percorreu todos os bairros, casa por
casa. Enquanto acontecia a testagem em massa, o comércio foi fechado e as ruas esvaziadas.
Foram 15 dias em lockdown, e ainda aguentando os ferrões dos negacionistas e
dos que pensam em dinheiro em plena pandemia mundial.
Segundos os infectologistas, a “Busca Ativa” é
primordial para conter o avanço do vírus, pois diagnostica, orienta e isola as
pessoas com sintomas leves e/ou assintomáticas que tiveram contatos com casos
positivos, além de tornar o isolamento e monitoramento muito mais eficaz, já
que a circulação de uma pessoa contaminada é trágica. E foi exatamente isso que
ocorreu em Salinas. Com testagens precisas, as equipes promoveram isolamentos
certeiros e conseguiram mapear a movimentação da doença na cidade, inclusive com
gráficos por bairro, sexo e idade.
Exemplos pelo mundo demonstram que ainda não
existem receitas prontas para lidar com a pandemia de coronavírus, mas, as
localidades que fizeram buscas ativas conseguiram reduzir os efeitos com maior
rapidez. Certo é que, Salinas freou temporariamente a curva e os últimos
boletins mostraram declínios pelo menos enquanto era mantido o fechamento total.
No entanto, na última sexta-feira (26) houve abertura parcial e as aglomerações
no Centro Comercial foram assustadoras.
Uma fonte do “Gabinete de Crise” instalado na
cidade disse à Folha Regional que a reabertura do comércio foi precipitada,
pois ocorreu no momento em que a curva começava a apresentar declínio. “O
certo é reabrir quando a curva achatar. As cidades que se precipitaram tiveram
que recuar e fechar novamente”, alerta a fonte, lembrando que os erros
e acertos ao lidar com a pandemia só aparecem depois.
Mesmo assim, um fato é inegável: a “Busca Ativa” deu à Salinas uma dimensão muito próxima do real, algo que muitas cidades não tem a coragem de fazer, pois o medo da realidade assusta tanto quanto o vírus. Aí, nesses casos, a saída é torcer e rezar para que a maioria dos infectados se curem sem precisar das unidades de saúde. E que Deus nos acuda!
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