CEO da Sigma fala em “geração perdida” e chama crianças do Vale Jequitinhonha de “mulas d’água”


Entrevista de Ana Cabral na COP 30 foi preconceituosa e com informações infundadas.

A CEO da Sigma Lithium, Ana Cabral, está sendo detonada em Araçuaí e toda a região por afirmar que parte dos funcionários da empresa já foi "mula de água" e pertence a "uma geração perdida" do Vale do Jequitinhonha. A declaração caiu como uma bomba, pois veio da CEO de uma multinacional que está arrancando a riqueza do Vale, levando para o exterior, sem deixar nada para trás.

Ouça as palavras de Ana Cabral no vídeo acima, que geraram revolta em toda a região.

Em nota, o prefeito de Araçuaí, Tadeu Barbosa (PSD), disse que às expressões "mulas de água" e "geração perdida" “não traduz o que vivemos aqui. Não faz justiça à dignidade do nosso povo".

A executiva da Sigma também propagou fakenews ao afirmar na entrevista que a empresa havia aberto quatro escolas, por isso, foi desmentida pela Prefeitura de Itinga. "É necessário esclarecer que as escolas mencionadas já funcionavam muito antes da instalação da empresa”, diz nota publicada pelo Executivo.

Nota da Prefeitura de Virgem da Lapa também demonstrou revolta. “Trata-se de uma construção equivocada, que tenta reduzir um povo inteiro a um estereótipo ultrapassado... A geração que a senhora Ana Cabral chamou de perdida é justamente a que mais estudou".

A CNBB divulgou nota de solidariedade à Diocese de Araçuaí e ao povo do Vale do Jequitinhonha. "Com tristeza e indignação, constatamos que a visão expressa pela empresa, ao falar de 'geração perdida' e de crianças tratadas como 'mulas de água', difama, injustamente, um povo trabalhador e resiliente. E também expõe a lógica de exploração e de descaso em territórios atingidos pela mineração no Brasil: lucra-se com o território enquanto se despreza seus filhos e filhas".

A deputada estadual Andreia de Jesus (PT-MG) disse que "racismo travestido de desenvolvimento" não será naturalizado. "Enquanto fazia lobby na COP, ela ofendia justamente quem carrega a verdadeira riqueza do Vale: as crianças que preservam o meio ambiente e mantêm viva a nossa cultura", declarou a deputada, que acionará o Ministério Público Federal.

A região interpretou a entrevista de Ana Cabral como preconceituosa e mentirosa, pois a executiva tentou propagar que a Sigma estaria mudando a realidade do Vale do Jequitinhonha ao contratar trabalhadores locais descritos como “ex-mulas d’água”, o que apenas reforça o discurso colonizador, reduzindo as comunidades a um estereótipo conveniente de pobreza extrema para legitimar a mineração extremamente predatória.

Entrevista agrava ainda mais a imagem da Sigma

A Sigma Lithium, uma empresa de capital aberto nas bolsas de valores de Toronto e Nasdaq, é alvo de denúncias jornalísticas internacionais por supostas compras de créditos de carbono ligados a desmatamento ilegal e grilagem na Amazônia, fatos que desmontam o discurso de “extração verde quíntuplo zero”, que eliminaria meia dezena de impactos ao meio ambiente, o que funcionaria como diferencial de marketing, permitindo a venda do lítio por preços mais altos. No entanto, parte de suas emissões de poluentes foi compensada por meio de créditos de carbono investigados num esquema de desmatamento ilegal, grilagem de terras públicas, corrupção e outros crimes na Amazônia, tudo isso está sendo investigado pela Polícia Federal.

Outro grave problema enfrentado pela empresa são as autorizações de pesquisa e extração de lítio na região, cujo Ministério Público Federal recomendou a suspensão, pois um laudo técnico apontou deficiências em estudo apresentado pela empresa em 2021, principalmente em relação aos impactos nos recursos hídricos, com grave interferência no Ribeirão Piauí, em especial pelo rebaixamento do nível d’água para a lavra.

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