Como o Brasil se tornou uma potência agrícola mundial?
![]() |
| *Artigo de Valter Casarin, coordenador Geral e Científico da iniciativa NPV. |
O
Brasil é um dos maiores produtores mundiais de produtos agrícolas, apesar de
uma desvantagem significativa: seu solo exige a aplicação de produtos e insumos
para atingir os níveis ideais de nutrientes para o crescimento das plantas.
Solo tropical significa altas temperaturas médias e chuvas intensas, uma
característica que existe desde os tempos pré-históricos. As reações químicas
induzidas por essas condições reduziram a quantidade de nutrientes nas terras
agrícolas e, portanto, na sua fertilidade.
No
Brasil, a escassez de terras naturalmente férteis para alimentar uma população
crescente levou à expansão da atividade agrícola para o Cerrado. Nas últimas
décadas, investimentos públicos maciços têm apoiado a pesquisa agrícola e
incentivado o setor agropecuário nessa região. Esse fato proporcionou ao
Cerrado se tornar um dos principais polos de produção agrícola, pecuária e
plantio de florestas. O sucesso desse esforço de desenvolvimento abre novas
possibilidades para a expansão agrícola sustentável e de alta produtividade.
A
expansão da agricultura nessa região foi possibilitada por condições naturais
favoráveis, incluindo chuvas abundantes, temperaturas amenas, topografia
adequada à mecanização e boa drenagem do solo. Ainda assim, a produtividade é
limitada por características desfavoráveis do solo, como alta acidez e teor
de alumínio, baixa fertilidade e má retenção de água. A adoção de novas
tecnologias, como correção da acidez do solo, adubação adaptada e a agricultura
de precisão, permitiu que a agricultura se estabelecesse com sucesso na região.
Mesmo
com essas condições desfavoráveis, o país continua produzindo cada vez mais
alimentos, às vezes com duas ou três safras por ano, ao contrário da maioria
dos outros países, que conta com uma safra anual somente.
Outros
fatores também se mostraram necessários para tornar a expansão agrícola
economicamente viável. Foi necessário desenvolver fontes locais de calcário e
fertilizantes, e estudar as taxas de aplicação economicamente vantajosas para
culturas anuais e perenes. A fertilização equilibrada, baseada nas necessidades
nutricionais das plantas, levou a maiores rendimentos.
O
uso de calcário e fertilizantes minerais foi decisivo para corrigir a acidez,
repor nutrientes essenciais (como fósforo, nitrogênio e potássio) e permitir o
desenvolvimento de cultivos de alto rendimento. Sem a adubação correta, o salto
de produtividade seria impensável. A soja, que hoje rende mais de 3,5 toneladas
por hectare, produziria menos de um terço disso. O milho, que alcança 10 a 12
toneladas por hectare nas regiões mais tecnificadas, cairia para menos de 3
toneladas sem reposição de nutrientes. Em outras palavras, fertilizantes não
apenas aumentam a produção, mas viabilizam a agricultura tropical.
Os
fertilizantes não são apenas instrumentos de produtividade, mas também de
eficiência e sustentabilidade, pois aumentam o uso racional da terra, reduzindo
a necessidade de abrir novas áreas agrícolas, como também melhoram o balanço de
carbono e o uso eficiente da água ao promover plantas mais vigorosas.
Com
o crescimento populacional e o papel do Brasil como grande exportador de
alimentos, os fertilizantes são essenciais para garantir segurança alimentar
global. A experiência brasileira mostra que fertilidade construída é produtividade
garantida.
O
uso correto de fertilizantes, aliado ao manejo do solo, rotação de culturas e
boas práticas agrícolas, é o caminho para uma agricultura produtiva,
sustentável e competitiva. Mais do que insumos, os fertilizantes são
instrumentos de transformação de solos pobres em terras férteis e produtivas.
Mas
o papel dos fertilizantes vai além da produtividade. Eles são também aliados da
sustentabilidade. Ao elevar a eficiência do uso da terra e da água, reduzem a
pressão sobre novas áreas de cultivo e contribuem para o equilíbrio ambiental.
O uso racional e planejado desses insumos, combinado com boas práticas
agrícolas, é uma das formas mais eficazes de conciliar produção e conservação.
Nos
últimos anos, a tecnologia dos fertilizantes evoluiu rapidamente. O
desenvolvimento de fontes adaptadas aos solos tropicais, capazes de
liberar nutrientes de forma mais eficiente e reduzir perdas, tornou-se uma
prioridade. Fertilizantes fosfatados especiais, produtos com liberação
controlada, adubos organominerais e soluções que incorporam bioinsumos são
exemplos de uma nova geração de tecnologias que unem produtividade, economia e
sustentabilidade. A agricultura brasileira é, antes de tudo, uma história de
superação dos limites da natureza. Boa parte do território nacional é formada
por solos tropicais altamente intemperizados, ácidos e pobres em nutrientes,
condições que, à primeira vista, pareciam incompatíveis com uma agricultura de
alta produtividade. Mas foi justamente nesse cenário desafiador que o Brasil
construiu uma das mais impressionantes trajetórias agrícolas do mundo.
Essa
intensificação sustentável é uma das grandes conquistas da agricultura moderna.
Produzir mais, em menos espaço, com eficiência e responsabilidade ambiental.
Cada
hectare bem nutrido representa não apenas maior produção de alimentos, mas
também menos pressão sobre novas áreas, ajudando a preservar florestas e
ecossistemas nativos. Fertilizantes não são apenas insumos: são instrumentos de
transformação, ciência aplicada à terra, energia que alimenta o ciclo da vida e
sustenta o alimento que chega ao nosso prato.
Em solos pobres, a tecnologia fez brotar abundância. E é essa combinação entre conhecimento, manejo e nutrição que continuará guiando o Brasil pelo caminho das altas produtividades com sustentabilidade, produzindo mais, em menos área, e com respeito à natureza.
*Valter Casarin, coordenador geral e científico da Nutrientes Para a Vida é graduado em Agronomia pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP e em Engenharia Florestal pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"/USP.

Comentários
Postar um comentário